3.11.08

Doença Mental e Psicologia



Colecção: Biblioteca Universal
Formato: 14 x 21 cm
N.º de páginas: 104
ISBN: 978-989-95689-9-0
PVP: 10,00€ (IVA inc.)




Doença Mental e Psicologia consiste num olhar sensível e inteligente sobre os vários eixos problemáticos da doença mental.

Publicado em 1954, este ensaio de Michel Foucault tem sido lido desde então por sucessivas gerações em todo o mundo.
Revolucionário, este texto fundador, prenúncio da genialidade que caracteriza a obra do Autor, observa, com espantosa argúcia, que «a psicologia só foi possível quando se aprendeu a dominar a loucura».
Aqui a demência é considerada a uma nova luz. A dimensão psicológica merece especial atenção e, num segundo momento, a reflexão incide sobre o contexto cultural.
Uma obra essencial para compreender um dos temas fulcrais do pensamento contemporâneo.

Michel Foucault (1926-1984), professor no Collège de France, é autor de uma obra magistral de onde se destacam A História da Loucura, O Nascimento da Clínica, As Palavras e as Coisas, entre outros textos, que mudaram para sempre o nosso modo de ver a Filosofia, a Psicologia, a Psiquiatria, a Psicanálise, tal como a própria História e a sociedade em geral.
O início dos anos cinquenta são para o autor tempos de trabalho filosófico mas também de descoberta da literatura, da psicologia e da psiquiatria; forma-se em psicopatologia e em psicologia experimental em 1952 e 1953, frequentando os seminários de Lacan. Estes conhecimentos abrangentes permitem-lhe observar articuladamente as matérias sobre as quais se debruça. A marca que deixou na história do pensamento Ocidental, apesar do seu desaparecimento prematuro, faz dele um dos nomes incontornáveis da contemporaneidade.

Ficam aqui dois excertos:

«A história individual, com os seus traumas, mecanismos de defesa e, sobretudo, a angústia que a atormenta, constituiu aparentemente outra das dimensões psicológicas da doença. A psicanálise colocou na origem de tais conflitos um debate «metapsicológico», nas fronteiras da mitologia («os instintos são os nossos mitos», dizia o próprio Freud), entre o instinto de vida e o instinto de morte, entre o prazer e a repetição, entre Eros e Tanatos. Mas é fazer passar por forma de solução o que se enfrenta no problema. Se a doença encontra um modo privilegiado de expressão nesse entrelaçamento de comportamentos contraditórios, não é porque os elementos da contradição se justaponham, como segmentos conflituais, no inconsciente humano, mas apenas porque o ser humano faz do ser humano uma experiência contraditória. As relações sociais que uma cultura determina, sob as formas da concorrência, da exploração, da rivalidade de grupos ou das lutas de classe, oferecem ao indivíduo uma experiência do seu meio humano constantemente assaltado pela contradição.» p. 95


«As dimensões psicológicas da loucura não podem, pois, ser reprimidas a partir de um princípio de explicação ou redução que lhes seria exterior. Mas devem situar-se no seio desta relação geral que o ser humano ocidental estabeleceu, vai já para dois séculos, de si para consigo mesmo. Sob um ângulo mais agudo, esta relação é a tal psicologia em que ele instilou um pouco do seu assombro, muito do seu orgulho e o essencial dos seus poderes de esquecimento; sob um prisma mais amplo, é a emergência, nas formas do saber, de um homo psychologicus, encarregado de deter a verdade interior, descarnada, irónica e positiva de toda a autoconsciência e de todo o conhecimento possível; por fim, reposta na abertura mais ampla, tal relação é aquela que o ser humano substituiu pela sua relação com a verdade, alienando-o no postulado fundamental de que ele próprio é a verdade da verdade.» p. 99


Dicionário Enciclopédico da Psicologia




Colecção: Índice
Formato: 15,5 x 23,5 cm
Capa: Cartonada
N.º de páginas: 640
ISBN: 978-989-95884-0-0
PVP: 42,00€ (IVA inc.)



O Dicionário Enciclopédico da Psicologia é uma obra de referência que aborda todos os temas da vida psicológica. Está organizado em três partes:

As bases indispensáveis:
Uma apresentação clara e concisa da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria, da história destas disciplinas, dos seus grandes teóricos, das noções principais e das psicopatologias.
As grandes questões da vida psicológica, pessoal e familiar:
A adolescência, o amor, a infância, a depressão, a educação, o comportamento do recém-nascido, como também o sono, o envelhecimento, a sexualidade, entre tantos outros tema, num total de 60 dossiers classificados alfabeticamente, que apresentam também todas as terapias (cura analítica, terapia familiar, hipnose médica, …), e as patologias graves (anorexia, autismo, psicose, …).
As noções essenciais:
De «abandono» a «zoopsia», passando por «complexo», «dislexia» ou «fetichismo», são 1500 definições para compreender o sentido de palavras que são cada vez mais utilizadas na linguagem corrente.

Redigido por uma vasta equipa de autores especialistas, médicos, professores, psiquiatras, psicanalistas e psicólogos, que nos oferecem a síntese dos mais recentes trabalhos científicos nestes domínios, o Dicionário Enciclopédico da Psicologia conta ainda com um importante apêndice bibliográfico.

Indiscutivelmente uma grande obra de referência, com o carimbo de qualidade Larousse, destina-se ao vasto público e às famílias, aos muitos segmentos dos profissionais da saúde, bem como aos professores e estudantes destas matérias.

Allegro Ma Non Troppo



Colecção: Biblioteca Universal
Formato: 14 x 21 cm
N.º de páginas: 96
ISBN: 978-989-95689-7-6
PVP: 10,00€ (IVA inc.)





Allegro Ma Non Troppo, seguido de As Leis Fundamentais da Estupidez Humana é um pequeno livro que consiste em dois textos hilariantes – uma exposição satírica de algumas peripécias da história e uma teoria das relações humanas –, que circularam clandestinamente em fotocópias até a sua notoriedade ser tão grande que o autor decidiu publicá-los em livro.

Por que razão um estúpido é mais perigoso que um bandido? Qual é a relação histórica entre o consumo da pimenta, o desenvolvimento da metalurgia e a difusão do nome Smith? Estas e outras intrigantes perguntas encontram resposta nos dois divertidos ensaios que compõem este livro, uma pirueta anárquica de fino humor; o primeiro ensaio é uma paródia hilariante da história económica e social da idade Média, com o Império Romano à mistura; o segundo, uma deliciosa brincadeira, em jeito de teoria geral da estupidez humana.

Duas pequenas obras-primas de jocosa extravagância intelectual, que nos propõem uma pausa de irreprimível comicidade e humorismo.

Carlo Maria Cipolla (1922 – 2000) foi um dos maiores historiadores económicos contemporâneos, cuja fama o levou a leccionar nas melhores universidades do mundo. Debruçou-se especialmente sobre a Idade Média e as suas obras representam um contributo insubstituível no conhecimento histórico desse período, tendo recebido inúmeros prémios.
Cipolla foi membro da Royal Historical Society da Grã-Bretanha, da British Academy, da Accademia dei Lincei, da American Academy ofArts and Sciences e da American Philosophical Society of Philadelphia; em Itália, seu país natal, foi distinguido com o Prémio da Presidência da República, e o seu funeral teve foros de acontecimento nacional, tal a notoriedade de que gozava no país.


Aqui ficam dois excertos:


Allegro Ma Non Troppo

« E, como se isso não bastasse, povos estrangeiros aguerridos e ameaçadores pressionavam do exterior, acrescentando violência à violência e roubalheira à roubalheira. Os Muçulmanos pressionavam no Sul, os Húngaros no Leste, os Escandinavos no Norte. Estes últimos eram talvez os piores. Ignora-se como e por que razão se lançaram tão desenfreadamente nas suas sanguinárias incursões, e por que motivos continuaram a infestar a Europa durante tanto tempo. Possuíam certamente uma tecnologia naval superior*, e a razão habitualmente invocada é a rapina. Mas havia mais: uma publicação norueguesa recente afirma que teve grande importância “o papel das mulheres na belicosa sociedade escandinava. Orgulhosas e formidáveis, as mulheres vikings, quando era necessário, sabiam também ser desleais, e não se deixavam dominar em circunstância alguma”.
Assim, não surpreende que os maridos de mulheres tão formidáveis optassem por longas ausências no estrangeiro, tanto mais que os homens vikings encontravam no Sul agradáveis ocasiões para esquecer os difíceis problemas domésticos. De acordo com os Annales de Saint-Bertin, em 865 d.C. um nutrido grupo de Nortmanni “ex se circiter ducentes Parisyus mittunt ubi quod quæsiverunt vinum” (“enviou a Paris um destacamento de cerca de duzentos homens à procura de vinho”).
A contínua sequência de violências e as penosas e deprimentes condições de vida daqueles tempos fizeram com que as taxas de mortalidade atingissem níveis muito elevados. É óbvio que a uma mortalidade elevada tem de corresponder uma fertilidade igualmente elevada, se se quiser que a sociedade sobreviva. Depois da queda do Império, os Europeus perderam, felizmente, o mau hábito de se esterilizarem com chumbo. Isso foi óptimo. Mas, entretanto, o comércio com o Oriente enfraquecia continuamente e, por conseguinte, a pimenta oriental tornou-se um bem cada vez mais raro e caro. O grande historiador belga Henri Pirenne e a sua escola realizaram cuidadosas investigações para demonstrar que a investida muçulmana nos séculos VII e VIII da era cristã deu o golpe final nas já vacilantes relações comerciais entre o Ocidente e o Oriente; e, assim, a pimenta tornou-se um bem escasso no Ocidente.

A pimenta é, como se sabe, um poderoso afrodisíaco. Privados dela, só a muito custo os Europeus conseguiram contrabalançar as perdas de vidas humanas causadas pelos barões locais, os guerreiros escandinavos, os invasores húngaros, os piratas árabes. A população diminuiu, as cidades despovoaram-se, enquanto as florestas e os pântanos se expandiam cada vez mais. Abandonada toda a esperança numa vida melhor neste Mundo, as pessoas puseram toda a sua fé na vida do Além, e a ideia de recompensa no Céu ajudou-as a suportar a falta de pimenta na Terra.
Só os tolos encaravam o futuro com optimismo. Os prudentes viam-no com puro horror e, para fugirem a um mundo brutal e sanguinário, muitos deles refugiaram-se na paz dos conventos. Só faltava agora que aparecessem os terríveis Cavaleiros do Apocalipse tal como fora anunciado pelos Profetas, e todos estavam resignados, convencidos de que isso iria acontecer à meia-noite do dia 31 de Dezembro de 999. Pelas 23 e 30 daquele dia temido, todas as mães apertaram os filhos contra o peito, e os amantes abraçaram-se num último e patético amplexo de amor. A fatídica e temida meia-noite chegou com pontualidade, mas, para espanto de todos, os Cavaleiros do Apocalipse não compareceram. Este encontro falhado ditou o turning point da História europeia. » pp. 18 - 21


* Embora primitivo, o povo viking era bastante evoluído nalguns aspectos. Um antropólogo americano conseguiu calcular o rotated factor index do desenvolvimento sociocultural de alguns povos primitivos. O rotated factor index dos Vikings é 1,60, sendo de 1,73 para os Astecas, 0,99 para os Hotentotes, 0,89 para os Mafulu, 0,44 para os Bosquímanos e 0,28 para os Esquimós. O que é o rotated factor index, só o antropólogo americano que o inventou poderá dizer.



As Leis Fundamentais da Estupidez Humana

« Os assuntos humanos — como é unanimemente consensual — encontram-se num estado deplorável; o que não constitui, de resto, novidade. Por muito que consigamos recuar no tempo, chegaremos à conclusão de que sempre estiveram em estado deplorável. O fardo pesado de privações e misérias que os seres humanos têm de suportar, quer como indivíduos, quer como membros da sociedade organizada, é, no essencial, resultado do modo extremamente inverosímil – e, ousarei dizer, estúpido – como a vida foi organizada desde o princípio.

Sabemos, desde Darwin, que partilhamos a nossa origem com as outras espécies do reino animal, e que todas as espécies, da minhoca ao elefante, têm de suportar a sua dose quotidiana de atribulações, temores, frustrações, penas e adversidades. Contudo, os seres humanos têm o privilégio de estarem sujeitos a uma carga acrescida, uma dose extra de atribulações causadas por um grupo de pessoas que pertencem ao mesmo género humano. Este grupo é muito mais poderoso do que a Máfia ou o complexo industrial militar ou a Internacional Comunista. E é um grupo que não está organizado, não faz parte de qualquer associação, não tem chefe, nem presidente, nem estatutos, mas que consegue, todavia, agir em sintonia perfeita, como se fosse guiado por uma mão invisível, de tal modo que as actividades de cada um dos membros contribuem poderosamente para reforçar e amplificar a eficácia da actividade de todos os outros. A natureza, o carácter e o comportamento dos membros deste grupo são o tema das páginas que se seguem.

Importa sublinhar nesta altura que este ensaio não é nem fruto do cinismo, nem um exercício de derrotismo social – não mais do que pode ser um livro de Microbiologia. As páginas seguintes são, na verdade, o resultado de um esforço construtivo para investigar, conhecer e, por via disso, possivelmente neutralizar uma das forças mais poderosas e obscuras que impedem o aumento do bem-estar e da felicidade humana.


Capítulo primeiro

A Primeira Lei Fundamental

A Primeira Lei Fundamental da estupidez humana assevera sem qualquer ambiguidade que,

Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação.

À primeira vista, a afirmação pode parecer trivial, óbvia ou pouco generosa, ou estas três coisas juntas. Contudo, um exame mais atento revela em pleno a sua real veracidade. Veja-se o seguinte: por mais alto que seja o cálculo quantitativo que se faça da estupidez humana, ficamos repetida e recorrentemente estupefactos pelo facto de:

a) pessoas que anteriormente julgávamos racionais e inteligentes se revelarem, de repente, inequívoca e irremediavelmente estúpidas;

b) dia após dia, e com uma incessante monotonia, somos estorvados e atrapalhados na nossa actividade por indivíduos obstinadamente estúpidos, que irrompem súbita e inesperadamente nos locais e momentos menos oportunos. » pp. 57 - 60