25.3.10

Função do Cinema











Título: Função do Cinema — e das outras artes
Formato: 14 x 21 cm
Capa: Brochada
N.º de páginas: 144
ISBN: 978-989-8285-12-6
PVP: 14,00 € (IVA inc.)




Contemporâneo da fabricação em série, do motor e da mecanização, nascidos da ciência moderna, o cinema é a arte da civilização própria da máquina; é este o eixo central em torno do qual Elie Faure desenvolve as suas apaixonadas reflexões em Função do Cinema, dos mais belos e vibrantes textos escritos até hoje sobre a 7.ª arte, numa linguagem poética de fôlego épico.
Associando e comparando o cinema com a pintura, a dança, o teatro, a arquitectura, a música, identifica a sua natureza profunda, ao mesmo tempo rítmica e plástica, sublinhando o seu carácter novo de criação colectiva, e extraindo daí destino, vocação e mística.
As análises proféticas de Elie Faure coincidem praticamente em todos os aspectos com as orientações que posteriormente a este escritor o cinema (e as outras artes também) viria a assumir.

Elie Faure nasceu em Sainte-Foy-la-Grande em 4 de Abril de 1873, e morreu em Paris em 29 de Outubro de 1937; a sua vida desenrolou-se no centro do turbilhão da primeira metade do século XX, pois participou como médico militar na Grande Guerra, e assistiu ainda à eclosão da Guerra Civil em Espanha.
Concluiu muito jovem, em Paris, o curso de medicina, e exerceu nos bairros populares da cidade, mas foi sobretudo a actividade de crítico e ensaísta de arte que veio a marcar toda a sua vida futura, partilhada igualmente pelas causas políticas e pela militância em movimentos socialistas.
Fruto da sua paixão pela arte, faz conferências regulares na universidade popular “La Fraternelle”, das quais virá a extrair a obra monumental História da Arte, pela qual se tornou mundialmente conhecido, e que hoje é referência nos estudos estéticos sobre arte.
O seu interesse pelo cinema levou-o a escrever artigos dispersos, de uma beleza e poesia incomparáveis, que aqui se reúnem em volume.

12.3.10

Cogito Ergo Sum - Dicionário Comentado de Expressões Latinas













Cogito Ergo Sum - Dicionário Comentado de Expressões Latinas
Formato: 15,5 x 23,5 cm
Número de páginas: 256
ISBN: 978-989-95689-0-7
Preço: 24,00 €


Asinus in tegulis
(Um burro no telhado)


Este adágio latino serve para designar qualquer coisa estranha ou incongruente. Curiosamente, os telhados das casas são muitas vezes o suporte dos objectos mais extraordinários, quando se deseja evocar o absurdo. Para além de um burro, podemos encontrar sobre eles um violino ou, então, o companheiro do burro da Natividade, o boi, o qual viu efectivamente nascer o início de uma nova era.
Espaço de uma certa consciência do absurdo, Boeuf sur le toit foi inicialmente um bar, uma espécie de discoteca situada na Rua Duphot e aberta por Louis Moysès, oriundo de Charleville. O primeiro nome do estabelecimento foi Le Gaya, devido a um [vinho do] porto da região de Gaia que ali se vendia. Jean Wiéner tornou-se pianista do local e ali tocava todos os géneros de música, particularmente jazz, e até mesmo o Pierrot lunar de Schönberg, que, na época, tinha a capacidade de chocar, tanto mais que o seu autor era austríaco.
O bar tornou-se o ponto de encontro das pessoas mais importantes da altura no domínio das artes: Picasso, Gide, Diaghilev, Misia Sert, Ravel, Erik Satie, Picabia, Mistinguett ou, então, Fernand Léger, o qual pediu a Wiéner que lhe tocasse um tema recente: “Saint Louis Blues”. Arthur Rubinstein substituiu pontualmente Wiéner para tocar obras de Chopin. Léon-Paul Fargue e Jean Cocteau relacionavam-se ali com o Grupo dos Seis. Em suma, todo um espírito novo nasceu naquele espaço.
Tristan Tzara, o pai do Dadaísmo, frequentou Le Gaya. No entanto, os seus herdeiros, os Surrealistas, mais sectários e menos abertos às reais novidades, muitíssimas vezes impermeáveis à música, mostraram indiferença para com aquele estabelecimento, preferindo Le Certa, outro bar próximo da Ópera de Paris.
Em 1919, Jean Cocteau quis escrever uma farsa para dar continuação à Parade de Erik Satie. Tinha ouvido Georges Auric e Darius Milhaud tocarem a quatro mãos um encadeamento de sambas e de rumbas, uma peça que deveria chamar-se Cinéma-Symphonie, na qual se misturavam alguns ritmos novos importados do Brasil. Milhaud mudou o título dessa obra para
Le Boeuf sur le toit, embora se tratasse do título de uma canção brasileira já existente. A obra assim intitulada teve como subtítulo The Nothing Doing Bar, pois Cocteau desejava escrever uma farsa «onde nada se passaria». A estreia do espectáculo teve lugar na Comédia dos Campos Elísios, no dia 21 de Fevereiro de 1920. Vestuário e cenários eram de Raoul Dufy.
A agitação e o ruído gerados em torno do Gaya fizeram com que Moysès se mudasse para outro local, abrindo um novo estabelecimento na Rua Boissy-d’Anglas, ao qual deu simplesmente o nome de Le Boeuf sur le toit. O espírito novo continuou a reinar, enquanto a reputação do bar se espalhava. Clément Doucet, que ia de seguida tocar com Wiéner, acabou por substituí-lo
ao piano.
No dia 15 de Julho de 1922, Jean Hugo e René Crevel levaram Marcel Proust ao Boeuf sur le toit, local onde encontrou os famosos «valsistas bolchevisantes» dos quais fala na obra Em busca do Tempo Perdido. Foi também ali que veio a conhecer Radiguet.
Quer neles se encontrem burros, bois ou simples gatos vadios, os telhados são decididamente locais onde sempre se passa alguma coisa. E muitas vezes aparece alguém a dizer que o que ali ocorre é absurdo.


Fontes:
Recordações pessoais de Germaine Tailleferre contadas ao autor.
Au temps du «Boeuf sur le toit», Artcurial, Paris, 1981. Obra redigida para uma exposição.

Edição original: Larousse, 2005.